segunda-feira, julho 17, 2006

Saciado

Sentada como todos os dias naquela cadeira que de forma peculiar já era sua, eu a observava. Começo então a refletir sobre todos os anos em que passei ao lado desta mulher, tudo o que nós passamos juntos, as crises, as vitórias, o tetra, o penta, quem sabe o hexa... Tudo vinha numa avalanche de sentimentos que tive que me controlar para não chorar ali diante dela, mas era tão intenso que agora acho que deixei de alguma forma transparecer o que sentia naquele momento.

Lembro do primeiro dia que parei pra perceber o que ela representava realmente na minha vida, confesso que foi em um momento de raiva, desejei nunca ter a conhecido, queria poder nunca mais encontra-la. Contudo por mais que eu forçasse a nossa separação, algo continuava nos unindo, uma força maior, algo inexplicável, mágico. Eu sei, eu sei, toda essa ladainha de forças e energias que unem duas pessoas, metade da laranja, tampa da panela, isso tudo já é tão batido, porém foram esses os únicos termos que encontrei para dar forma o que pra mim era imaterial.

Ali, na minha frente, nada mais comum que isso afinal já são 20 anos em que sentamos de frente um para o outros todos os dias, percebi que não poderia viver sem essa mulher, indubitavelmente não conseguia imaginar o mundo sem ela, amava-a. Amava esta pois foi ela a única a estar sempre apoiando meus planos, minhas ambições, enxugando minhas lágrimas quando não dá certo, afagando-me em seus tenros braços, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.

Seu prato estava já no fim, ela então percebe o meu momento de contemplação. Um pouco envergonhada ela cruza seu olhar com o meu, sorri um sorriso tão cativante tal qual sua própria pessoa e me pergunta com sua voz eternamente doce:

- Filho, já acabou?

- Sim mamãe; já não sinto fome. – respondo eu

Não consigo segurar, por entre meus lábios que agora também abrigam um sorriso, choro. De felicidade.

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