quinta-feira, julho 13, 2006

Ele, I.M.L nº. 433

Uma luz se acende e ele a observa; melancólico. Numa nebulosa noite de inverno vê-se uma janela pequena; como um único ponto no breu de uma madrugada fria. Madruga essa onde a maioria sonha e anseia as mais profundas vontades; quantos não são os incontáveis segredos revelados em apenas uma única noite; quantas não são as invenções idealizadas; quantas não são as tristezas relembradas. Porém, lá está um pedaço da noite que acaba de se iluminar.

Do lugar onde se encontra, o sujeito pouco consegue discernir o emaranhado de edificações, as milhares de janelas. Contudo, ele vê, como uma rosa que nasce na savana amarela, uma janela que acaba de acender. Ele então se questiona do por que a pessoa que habita a janela também não está sonhando? Por que ela também não consegue dormir? Por que somente esta, dentre várias, tocou o interruptor às três da manhã?

Ele pensa na possibilidade de existir outra pessoa como ele, e tão perto, logo ali, duas ruas depois da sua. Pensa se existirá mesmo um outro alguém que não se sinta parte desse mundo, onde uma marca numa camiseta vale mais do que uma boa ação ou uma ajuda espontânea. Existirá mesmo outrem que se indigne ao assistir crianças desde pequenas aprendendo a levar vantagem sobre o outro, sendo induzidas a burlar leis e condutas cada vez mais cedo. Uma faísca de esperança ousa nascer nos pensamentos dele.

Contudo ele não se ilude novamente. Daquele coração experiente e castigado nada mais germinará. Não há mais como mudar; as raízes do problema, segundo ele, já estão tão profundas que envolvem todo o planeta. Não há mais retornos a se tomar.

Uma brisa leve e fresca sopra. Ele cai. Ouve-se um baque surdo e vazio na noite. A luz se apaga. A cidade dorme.

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