domingo, maio 20, 2007

O Escrivão

Monitor, teclado, mouse. Tudo aquilo estava a sua frente e ele não conseguia escrever nada. Nem ao menos olhava para a tela do monitor para ver o que estava escrevendo. “Ninguém vai ler mesmo, então não importa se eu escrever errado” – pensava.

Ele precisava escrever, mas não sabia o porquê. Ultimamente vinha tendo essa vontade. Sempre que ele via postagens em flogs e blogs dizendo , após um longo texto, que escritor agora estava bem melhor após todas as injúrias e raivas postas para fora em simples bytes de palavras, sentia necessidade de escrever também. Ele queria desabafar, escrever tudo aquilo que estava preso em seu peito mas que ele não podia, ou não conseguia, dizer para ninguém mais.

Meia hora depois ele continua na primeira linha; já havia escrito um parágrafo inteiro, porém achou ruim e apagou: “Quisera eu ter prestado atenção às aulas de redação...”. Sua criatividade também não andava lá essas coisas. Ele só queria entender por que sentia aquela sutil depressão que teimava em continuar no seu peito, esmagando seu coração e sua alma aos poucos. Afinal, ele tinha uma vida ótima; estudava, tinha já um estágio, possuía dinheiro suficiente para se divertir com os amigos, havia também seus amigos que ele pensava ser bons amigos. Contudo ele sabia que de nada adiantava tentar camuflar sua tristeza ocupando a cabeça com os amigos, com os estudos ou até mesmo com a bebida nos fins-de-semana.

Ele precisava escrever. Quem sabe escrevendo não encontrava a resposta para a sua ansiedade, quem sabe talvez até não conseguiria ir apagando sua tristeza ao escrever para um computador mudo e sem reação.

Já se foram dois parágrafos; “Acho que peguei o ritmo...”, ele pensa sem muita felicidade. O processo é doloroso e massacrante; quanto mais escreve, mais a dor miúda no peito vai aumentando de intensidade. É como limpar um corte profundo, dói muito, muito mesmo, mas é necessário para a saúde mental e emocional.

Já podendo notar pingos de suas lágrimas na mesa ele não parou; não agora, não quando ele finalmente conseguiu transpor a barreira e entrar no super-protegido mundo povoado pelos seus traumas e por suas fraquezas. Ele queria de qualquer forma entender essa alucinante dor em sua alma.

Ficou escrevendo por toda a madrugada e decidiu que não iria para a faculdade naquela manhã e nem ao estágio pela tarde. Queria dormir profundamente pra quem sabe escrever mais na noite seguinte.

Dormiu por horas e acordou atordoado. Após o sonho que parece que durou infinitas horas ele agora sabe aquilo o qual lhe causa toda essa angústia.

Liga o monitor, abre o editor de texto. Sente as lágrimas secas nas teclas. Está decidido a escrever ferozmente.

Vai escrever sobre o que domina sua alma e seu mundo...

Escreverá sobre ela.

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